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Prefácio
A quem pertencem seus pensamentos? Isso mesmo, estou falando
dessas várias vozes que tagarelam sem cessar em sua cabeça, desse fluxo
infinito de discursos dentro de sua mente. Então? A quem pertencem?
A resposta óbvia seria: pertencem a mim, unicamente a mim, são a
última trincheira de minha intimidade, onde guardo minha essência mais
profunda. Meus pensamentos representam minha consciência estritamente
individual, eles protegem minha identidade, minha história, minha autonomia,
minha individualidade.
Mas, e se eu disser que existem, em média, 24 nomes de marcas que
podem saltar independentemente de seus pensamentos a partir da simples e breve
imagem de um produto? E os vários jingles, bordões, canções e ditados que
precisam apenas de algumas notas ou de um trecho inicial para serem
reproduzidos sub-repticiamente na algazarra de seus pensamentos? E os
pré-conceitos, herdados e incorporados por séculos a nossas mentalidades como
se fossem as verdades mais cristalinas? Não vou nem citar todos os conselhos
recebidos e absorvidos desde a mais longínqua infância.
Pare pra pensar, sem brincadeiras, que quando você lê este
prefácio, por exemplo, é como se a voz de seu autor se imiscuísse em meio a
essas vozes que falam sem cessar ai dentro. Imagine agora tudo que você já leu
e ouviu, todos esses discursos que continuam a ecoar por sua mente sem que você
perceba conscientemente.
Diante dessa surpreendente resposta, cabe aqui mais uma pergunta:
quem controla seus pensamentos? Você? Seu inconsciente? Seu ego? Seu superego?
Algum tipo de super consciência?
Sejamos sinceros: há momentos em que pensamentos autônomos gritam
sem controle dentro de nossas cabeças. Às vezes, coisas horríveis insistem em
palpitar dentro de nossas mentes, mesmo que surdamente, idéias cruéis,
absurdas, hilárias, que sussurram nitidamente querendo nos levar a algo alheio,
distante, irreconhecível, porém, ao mesmo tempo, presente e real. A maioria dos
pensamentos é extremamente rebelde.
O autor de “Retratos de uma existência” teve a coragem de encarar
esses pensamentos insurgentes, de deixar fluir livremente tais idéias, em um
fluxo autêntico de vida, de verdade interior, chegando a uma obra valiosa,
honesta, uma verdade imediata que não se esconde no medo daquilo que os outros
vão pensar. E é isso que vão encontrar aqui: um testemunho dos pensamentos crus
que povoam nossos cérebros, ousados, sem pudores, como gigantes cavalos cegos a
cavalgar soltos pela existência.
Os pensamentos pertencem ao mundo... deixai-os chegar e partir,
chorar e sorrir, como um dia após o outro, como um novo livro a ser lido, como
tudo na vida. "
Marcus de Bessa
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