terça-feira, 6 de novembro de 2018

De um tempo estranho.

Sou de um tempo estranho, para falar a verdade, alias para este tempo, sinto-me cada vez mais estranho. Há dez anos as meninas se preocupavam mais em serem gentis e educadas (claro que se preocupavam com a beleza), acontece que hoje se preocupam mais em terem uma foto com corpo esbelto e frequentar os mais variados lugares vazios de alma e cheios de álcool. Ter uma bunda parece ser mais interessante que ler um livro ou ter um diploma. Quem sabe ter um cabelo bem tratado e melhor que conversar sobre algo que descobriu e se encantou - porque é mais fácil se encantar por uma imagem a ter sensibilidade de encantar-se pelo que leu ou sentiu de verdade. O julgamento por algo que vemos é imediato e instantâneo, diferentemente do julgamento por algo que sentimos que funciona a longo prazo e necessita de dedicação. Acham estranho que não tenha uma foto em cada ambiente do universo ou raio do globo - e que penso meu mundo em mim, vivo olhando os outros e necessito olhar a mim mesmo para tentar entender. Sou tão estranho que não saio todo final de semana nem tenho duzentas fotos com trezentos amigos em volta bêbados ou dançando lambada. Sou de um tempo estranho, os meus amigos cabem em uma mão e os conhecidos quando os encontro sempre desejo que estejam bem. Alguns colegas acham estranho, não me encantar uma moça com duzentas fotos de seu corpo, ou mesmo, quando vários amigos dela diga que ela é maravilhosa. Não se trata de exigência ou de eu ser antinatural, apenas no meu íntimo ser; não sinto encanto por seios fartos ou bundas gigantescas com roupas coladas - evidentemente algumas moças mais naturais sinto desejo natural de toda especie (não corre aço em minha veias há um pouco de ferro e muito leite ninho ou toddy); mas estranhamente, sem que escolhemos a natureza nós diz que tal moça não é aquela com a qual desejamos para dividir nossas vidas e nossos malucos sonhos de verão - além da imagem existe algo que transcende nossa sensibilidade; como uma doce menina que faz nossa alma ser quente, viva e feliz. Sou do tempo da gentileza, da fala simples e do olhar sincero - do tempo das atitudes verdadeiras e da sinceridade sem jeito - da ternura dos sorrisos e da bondade do campo.  

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