domingo, 25 de setembro de 2016

O Soldado Wesley.

O soldado está vivo! Não tão vivo; parece que ele perdeu sua alma. Quase tudo que diz pertence há algo que não existe mais; na verdade o que existe mesmo causa nele algo mais profundo que apenas a sua saudade do que passou. Sente que tem vida aquilo tudo que perdeu nela, e que não morreu nele, porque viver era o que se passou e não o que se passa neste instante da vida. Aprendeu sentindo o que é amar; mas não o que é ser amado. Aprendeu a dar mesmo sem receber; Aprendeu a chorar sem nenhuma dor física. Só pôde falar de alma, quando ficou triste por ser enganado e ridicularizado perante ao seus demônios. Quando foi exaltado dizia que não existia sentimento. Deram-lhe uma medalha que ele guardou sob a prateleira empoleirada. Ele lava o rosto e enxuga suas rugas; Sente que as impressões da alma o tornaram mais velho que sua idade; Por mais que fosse uma criança por dentro, era difícil voltar a brincar na rua com seus amigos de outrora - mesmo com trinta e poucos anos, se sentia um velho no fim da vida. Tornou-se rude e agressivo; Pensa que tudo em volta é uma guerra; quando compra um pão negocia com o padeiro para que ele não lhe venda algo de uma qualidade ruim, caso contrário encurtaria sua vida em quase três horas e cinco minutos e dezessete segundos. Se entra no banco pensa logo que vai ser assaltado, como o que vê na televisão que comprou para substituir o amor; Se alguém fala seu nome pensa que está ouvindo vozes - porque só são amigos dele os que o conheciam antigamente, mas eles morreram ou sumiram de sua vida muito antes que ele pudesse tê-los - os que restaram são alguns que chamam seu nome quando precisam dele ou quando faltam algo. Quando um comandante do quartel ligou, ele já vestiu sua roupa. Achou que seu país estava em guerra contra o seu vizinho que sempre faz festas com o som alto; Só que era apenas para pedir uma informação. "Você sabe o número da pizzaria?"   
  

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