sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A Princesa.

    A princesa demorava em seu quarto arrumando seu cabelo puxando-o e esticando de um lado a outro para que ele ficasse mais longo e firme; Duas mulheres mais velhas lhe disseram no dia anterior que ela tinha que ficar a mulher mais linda da festa, pois hoje ela faria quinze anos de idade, e era assim que todas as princesas faziam como se fosse uma convenção entre as mulheres. Sem espalhar os fios dos cabelos para eles não se enrolarem, passando sobre o rosto o que havia de mais puro das essências, olhava a cada movimento no espelho, mudava-o de posição o espelho para ver seu rosto de vários ângulos e mesmo assim se sentia feia e mais ainda se sentia sozinha - tinha que estar bonita - era uma lei natural não podia haver princesas feias. Anos antes ela tinha aulas com um homem que ensinará a ter confiança, através de leitura e muito raciocínio, mas ele não estava mais lá - seu pai um homem de coração bom esteve mais ausente que presente em sua vida deixando-a sob os cuidados de sua mãe que nada sabia sobre os sonhos ou desejos de sua filha. Ela não quereria ser a mais bonita, mas tinha que ser - e ela se sentia mal por isso tudo a sua volta era uma cobrança - se ao menos ela pudesse ser independente poderia querer por si mesma - mas parecia seguir o mesmo caminho de todas, por está perdida. Seguia as ordens que sua família achará que era mais adequado e melhor a se seguir. Os preparativos para a festa se seguiam, apareciam aos poucos os parentes próximos para fofocarem uns sobre os outros. 
       Ela estava pronta depois de passar tanto tempo se arrumando e ouvindo os palpites de sua mãe e de suas tias em volta. Sentia-se as vezes um pouco confiante e depois muito insegura, ao mesmo tempo em que se achava bonita se preocupava se as pessoas ao redor  iriam gostar e se ela iria mesmo agradar a todos. Quando a festa havia começado ela deu os últimos retoques e perguntou a sua mãe se estava linda - sua mãe lhe passou confiança e disse que sim, que ela estava pronta e já podia sair de seu quarto. Ao sair ela ficou tão tímida que se movia sem jeito e lentamente, todos sem exceção estavam olhando-a. Ela era sim a mais bela da festa - seu pai foi ao seu encontro, e segurou suas mãos levando-a cumprimentar todos os convidados de perto - com um orgulho imenso de ser quem era. Ela recebeu vários presentes e muitos discursos elogiando sua beleza e seu jeito meigo de tratar a todos com educação e alegria. Dentro dela havia um vazio e mesmo que ela estivesse ao redor de tanta gente - não era aquele tipo de vida que ela gostaria de ter de verdade. A princesa sempre escreveu bem, mas não sabia o que escrever sobre o porquê de não se sentir tão bem sendo quem era ela; ela tentou pegar seu diário para expor algo, e nada conseguiu - não vinha do que pensava ao certo era algo confuso ela sentia e não se entendia. Um jovem rapaz passava com um papel nas mãos e escrevia rapidamente um monte de coisas num papel. 'Porque é mais difícil retribuirmos quem nos faz uma gentileza ou agrado a quem nos trata mal..' Não ela não sabia o que ele tinha esboçado. Apenas viu que ele também escrevia como ela, mas o que ele escrevia? Ela realmente não sabia - ficou curiosa - e então começou a conversar com as pessoas ao redor para saber mais. Descobriu algo muito estranho, alguns anos atrás ele tinha uma carta para entregar a ela - pois esse estranho escritor já foi apaixonado por ela. Então ela pensou será que ele escreveu algo para mim? E assim, ela fez seu pai ir perguntar. E seu pai foi em direção ao rapaz perguntar o que ele estava escrevendo. E ele disse 'Ultimamente tenho escrito coisas pequenas. Nada de amores apaixonados, apenas coisas que sinto e penso que são especiais.' Sabendo da resposta disse a sua filha - Ela não gostou - gostaria que ele escrevesse algo para ela. Sua mãe disse a ela para abrir os presentes, e ela foi correndo abrindo um por um deles, um em especial - tinha-se um colar e uma frase dentro - que dizia algo. Ela perguntou de quem é esse presente alguém sabe? Ela olhou em volta da festa e aquele escritor havia sumido. Procurou a mãe cutucando-a e perguntando como faço para saber de quem é esse presente mãe? E então sua mãe disse 'ouça sempre seu coração..' Então ela pegou o colar e guardou dentro de um armário bem escondido. Sua vida seguiu, ela sempre vivera - guardando só aquilo que parecia que era especial.   
        Não havia mais festa, nem escritores, nem elogios, nem sua bela maquiagem, nem nada daquele glamour todo de sua adolescência. Ela precisava trabalhar, estudar e se dedicar a alguma coisa; a idade e a cobrança vinham juntas para que ela fizesse alguma coisa de sua vida - era preciso andar com as próprias pernas e ser independente; Pois aqueles dias e aquelas pessoas iriam a deixar um dia - ela sabia disso. Ela tinha ideia dos escritos que leu de alguns sábios que a felicidade não podia ser alcançada por nós, e que a natureza nem Deus fez de nossas vidas algo em que poderíamos nos sentir bem e felizes de maneira plena e que de fato nós nos dividíamos como um pêndulo entre o desejo de ter algo e o sofrimento de nos sentirmos vazios. Quando alcançamos o que desejamos ficamos entediados e desgostosos com tudo satisfeitos esperando que surja outro desejo. Mas nos escritos de  outro escritor ele mostrará em suas ideias sobre a vida que tudo podia ser diferente. Que podia o amor entre duas pessoas e duas almas livra-las de todas aquelas palavras de pessimismo absoluto - dando e mostrando um novo caminho e que havia como segui-lo. Ela não encontrava na natureza, nem nas palavras da Bíblia, nem nos textos que lia, menos ainda nas palavras do pastor, nas lições de sua mãe ou pai, nos encontros com seus parentes ou amigos - apenas havia um acalento e paz numa conversa com sua amiga. Ela estava sozinha, mesmo que tivesse falando com o jovem escritor do colar e dos escritos - Ele nada podia fazer - pois pensou encontra-la pronta e acabou deixando-a ao que parece mais perdida do que ela estava. Ela desejava seguir assim até encontrar seu próprio caminho, precisava estar sozinha, precisava ver o que seus sonhos realmente lhe diziam - para entender seu próprio caminho.

    Ela encontrou um rapaz bem educado, inteligente e de boa família seguiu um namoro com ele; já que ele a fazia sorrir e sempre a tratara bem. Brigavam pouco e resolvia na mesma hora. No entanto, quando ela estava sozinha se lembrava de um presente de um escritor – que agora ela não considerava mais de tanto talento assim, já que vivia uma vida bem mais tranquila ao lado de outra alma, que não era como as outras, era uma alma menos impulsiva que não variava entre o amor e o ódio como as que conheceu ao longo da vida. Ela estava bem era o que desejava uma alma parecida com a sua, mais calma e amena com a vida. Não se sentiu no direito de ficar com aquele colar nem com aquela frase, menos ainda de dizer a ele que estava bem melhor longe do que próximo dele. Afinal sentia falta de algumas coisas que foram logo substituídas – embora se sentisse um pouco a ausência. Num ato nobre, talvez um dos atos mais nobres que as belas princesas fazem - Ela devolveu o colar com a frase que o escritor havia lhe dado anos atrás. Isso não quereria dizer que ela o esquecerá – mas como dizem em Romeu e Julieta não necessitava ficar com nenhum presente para se lembrar – ela sempre se lembraria dele,  pois suas palavras e cartas estavam em sua alma – acontece que agora era hora de deixar o escritor eternamente grato e feliz. Neste colar havia um segredo e nesta frase outro, coisas que somente os amantes sabem e sentem. E quando chegou a carta com os dois presentes, nunca se viu na terra um gesto tão nobre e tão belo como este. Nunca se viu um homem tão feliz quanto este pequeno escritor. Poucos sabem, mas são nas pequenas coisas que estão os maiores amores – ela guardará um amor – e agora o devolverá como quem deseja que o outro seja feliz – da mesma maneira que a fez feliz ter recebido e guardado aquele amor. O escritor podia dar a outra alma - para seguir um novo caminho e brilhar novamente em um novo céu. 

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