A princesa demorava em seu quarto arrumando
seu cabelo puxando-o e esticando de um lado a outro para que ele ficasse mais
longo e firme; Duas mulheres mais velhas lhe disseram no dia anterior que ela
tinha que ficar a mulher mais linda da festa, pois hoje ela faria quinze anos
de idade, e era assim que todas as princesas faziam como se fosse uma convenção
entre as mulheres. Sem espalhar os fios dos cabelos para eles não se enrolarem,
passando sobre o rosto o que havia de mais puro das essências, olhava a cada
movimento no espelho, mudava-o de posição o espelho para ver seu rosto de
vários ângulos e mesmo assim se sentia feia e mais ainda se sentia sozinha -
tinha que estar bonita - era uma lei natural não podia haver princesas feias.
Anos antes ela tinha aulas com um homem que ensinará a ter confiança, através
de leitura e muito raciocínio, mas ele não estava mais lá - seu pai um homem de
coração bom esteve mais ausente que presente em sua vida deixando-a sob os
cuidados de sua mãe que nada sabia sobre os sonhos ou desejos de sua filha. Ela
não quereria ser a mais bonita, mas tinha que ser - e ela se sentia mal por
isso tudo a sua volta era uma cobrança - se ao menos ela pudesse ser
independente poderia querer por si mesma - mas parecia seguir o mesmo caminho
de todas, por está perdida. Seguia as ordens que sua família achará que era
mais adequado e melhor a se seguir. Os preparativos para a festa se seguiam,
apareciam aos poucos os parentes próximos para fofocarem uns sobre os outros.
Ela estava pronta depois de passar tanto
tempo se arrumando e ouvindo os palpites de sua mãe e de suas tias em volta. Sentia-se as vezes um pouco confiante e depois muito insegura, ao mesmo tempo em que se achava bonita se preocupava se
as pessoas ao redor iriam gostar e se
ela iria mesmo agradar a todos. Quando a festa havia começado ela deu os últimos
retoques e perguntou a sua mãe se estava linda - sua mãe lhe passou confiança e
disse que sim, que ela estava pronta e já podia sair de seu quarto. Ao sair ela
ficou tão tímida que se movia sem jeito e lentamente, todos sem exceção estavam
olhando-a. Ela era sim a mais bela da festa - seu pai foi ao seu encontro, e
segurou suas mãos levando-a cumprimentar todos os convidados de perto - com um
orgulho imenso de ser quem era. Ela recebeu vários presentes e muitos discursos
elogiando sua beleza e seu jeito meigo de tratar a todos com educação e
alegria. Dentro dela havia um vazio e mesmo que ela estivesse ao redor de tanta
gente - não era aquele tipo de vida que ela gostaria de ter de verdade. A
princesa sempre escreveu bem, mas não sabia o que escrever sobre o porquê de
não se sentir tão bem sendo quem era ela; ela tentou pegar seu diário para
expor algo, e nada conseguiu - não vinha do que pensava ao certo era algo
confuso ela sentia e não se entendia. Um jovem rapaz passava com um papel nas
mãos e escrevia rapidamente um monte de coisas num papel. 'Porque é mais
difícil retribuirmos quem nos faz uma gentileza ou agrado a quem nos trata
mal..' Não ela não sabia o que ele tinha esboçado. Apenas viu que ele também
escrevia como ela, mas o que ele escrevia? Ela realmente não sabia - ficou
curiosa - e então começou a conversar com as pessoas ao redor para saber mais.
Descobriu algo muito estranho, alguns anos atrás ele tinha uma carta para
entregar a ela - pois esse estranho escritor já foi apaixonado por ela. Então
ela pensou será que ele escreveu algo para mim? E assim, ela fez seu pai ir
perguntar. E seu pai foi em direção ao rapaz perguntar o que ele estava
escrevendo. E ele disse 'Ultimamente tenho escrito coisas pequenas. Nada de
amores apaixonados, apenas coisas que sinto e penso que são especiais.' Sabendo
da resposta disse a sua filha - Ela não gostou - gostaria que ele escrevesse
algo para ela. Sua mãe disse a ela para abrir os presentes, e ela foi correndo
abrindo um por um deles, um em especial - tinha-se um colar e uma frase dentro
- que dizia algo. Ela perguntou de quem é esse presente alguém sabe? Ela olhou
em volta da festa e aquele escritor havia sumido. Procurou a mãe cutucando-a e
perguntando como faço para saber de quem é esse presente mãe? E então sua mãe
disse 'ouça sempre seu coração..' Então ela pegou o colar e guardou dentro de um
armário bem escondido. Sua vida seguiu, ela sempre vivera - guardando só aquilo
que parecia que era especial.
Não havia mais festa, nem escritores,
nem elogios, nem sua bela maquiagem, nem nada daquele glamour todo de sua adolescência. Ela
precisava trabalhar, estudar e se dedicar a alguma coisa; a idade e a cobrança
vinham juntas para que ela fizesse alguma coisa de sua vida - era preciso andar
com as próprias pernas e ser independente; Pois aqueles dias e aquelas pessoas
iriam a deixar um dia - ela sabia disso. Ela tinha ideia dos escritos que leu
de alguns sábios que a felicidade não podia ser alcançada por nós, e que a
natureza nem Deus fez de nossas vidas algo em que poderíamos nos sentir bem e
felizes de maneira plena e que de fato nós nos dividíamos como um pêndulo entre o
desejo de ter algo e o sofrimento de nos sentirmos vazios. Quando alcançamos o
que desejamos ficamos entediados e desgostosos com tudo satisfeitos esperando que surja outro desejo. Mas nos escritos de outro escritor ele mostrará em suas ideias
sobre a vida que tudo podia ser diferente. Que podia o amor entre duas pessoas
e duas almas livra-las de todas aquelas palavras de pessimismo absoluto - dando
e mostrando um novo caminho e que havia como segui-lo. Ela não encontrava na
natureza, nem nas palavras da Bíblia, nem nos textos que lia, menos ainda nas
palavras do pastor, nas lições de sua mãe ou pai, nos encontros com seus
parentes ou amigos - apenas havia um acalento e paz numa conversa com sua
amiga. Ela estava sozinha, mesmo que tivesse falando com o jovem escritor do
colar e dos escritos - Ele nada podia fazer - pois pensou encontra-la pronta e
acabou deixando-a ao que parece mais perdida do que ela estava. Ela desejava
seguir assim até encontrar seu próprio caminho, precisava estar sozinha,
precisava ver o que seus sonhos realmente lhe diziam - para entender seu
próprio caminho.
Ela encontrou um rapaz bem educado,
inteligente e de boa família seguiu um namoro com ele; já que ele a fazia
sorrir e sempre a tratara bem. Brigavam pouco e resolvia na mesma hora. No
entanto, quando ela estava sozinha se lembrava de um presente de um escritor –
que agora ela não considerava mais de tanto talento assim, já que vivia uma
vida bem mais tranquila ao lado de outra alma, que não era como as outras, era
uma alma menos impulsiva que não variava entre o amor e o ódio como as que conheceu ao longo da vida. Ela estava bem era o que desejava uma alma parecida com a sua,
mais calma e amena com a vida. Não se sentiu no direito de ficar com aquele
colar nem com aquela frase, menos ainda de dizer a ele que estava bem melhor longe
do que próximo dele. Afinal sentia falta de algumas coisas que foram logo substituídas
– embora se sentisse um pouco a ausência. Num ato nobre, talvez um dos atos
mais nobres que as belas princesas fazem - Ela devolveu o colar com a frase que o
escritor havia lhe dado anos atrás. Isso não quereria dizer que ela o esquecerá
– mas como dizem em Romeu e Julieta não necessitava ficar com nenhum presente
para se lembrar – ela sempre se lembraria dele, pois suas palavras e cartas estavam em sua
alma – acontece que agora era hora de deixar o escritor eternamente grato e
feliz. Neste colar havia um segredo e nesta frase outro, coisas que somente os
amantes sabem e sentem. E quando chegou a carta com os dois presentes, nunca se
viu na terra um gesto tão nobre e tão belo como este. Nunca se viu um homem tão
feliz quanto este pequeno escritor. Poucos sabem, mas são nas pequenas coisas
que estão os maiores amores – ela guardará um amor – e agora o devolverá como
quem deseja que o outro seja feliz – da mesma maneira que a fez feliz ter
recebido e guardado aquele amor. O escritor podia dar a outra alma - para seguir um novo caminho e brilhar novamente em um novo céu.
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